Lendas





O GUAJARA

Uma das principais lendas daqueles gentios era a do Guajará, uma espécie de fantasma travesso. Aparecia sempre inopinadamente; ou mesmo nem aparecia; era apenas uma sombra. Aliás, dizem que ainda aparece.
“O Guajará de Almofala apresenta certa semelhança com o Saci e com o Caipora, duendes dos matos, apreciando-se, sobretudo, o espírito travesso, buliçoso, às vezes malévolo, que lhes orienta as atividades e os processos de assombramento”.
Florival Seraíne, folclorista

“Guajará ente místico fantástico habitante dos mangues de Almofala e que se manifesta de várias maneiras: canta, assobia, imita o bode e outros animais, açoita os cães e também é chamado de Pai do Mangue ou Pajé do rio”.
José Alcides Pinto, escritor e poeta.

O professor Silva Novo ouviu da macróbia Tremembé Tia Chica, que “o Guajará mora nos mangues” e ela adiantou que certa ocasião estava pilando milho, quando sentiu a mão-de-pilão pesar-lhe entre as mãos. E uma sua neta chamada em socorro da índia velha apavorada, viu uma sombra de um enorme pássaro. Tia Chica jurava que esse pássaro era o Guajará, em uma de suas costumeiras traquinagens.
NAVIO FANTASMA

Dizem que, por várias vezes, têm visto, naquela praia, a altas horas da noite, um navio gigantesco, feericamente iluminado, numa visão realmente impressionante e deslumbrante.

Entretanto, ao tentar se aproximar alguém do navio fantasma, este desaparece misteriosamente, para, alguns minutos depois, reaparecer, já muito distante, em alto mar.

ALMOFALA E ALMA FALA 

 Quando aqui era só mata e mar, os índios falavam sua língua que só eles sabiam. Nesse tempo o mar era perto da mata e os portugueses que vinham navegar por aqui ouviam vozes, mas não entendiam. Os portugueses vinham mar a fora a mandado do rei e da rainha.  Eles contaram que aqui havia uma região onde ouviam vozes e não viam nada. A princesa disse pra eles voltarem com mais informações sobre a estranha terra. Ao chegar novamente aqui, ouviram vozes, mas quando chegaram perto do coração da mata só encontraram o canto dos pássaros. Os índios se escondiam quando viam as caravelas chegando e não saiam da mata por nada. Depois de algum tempo de procura, os portugueses resolveram falar bem alto: - Alma fala! Alma fala! E voltaram para a princesa, em Portugal, contando: - lá, só alma fala. A região era conhecida como Alma fala. Pois os portugueses voltaram e depois de muito caçar, encontraram um índio. Foi um encontro assustador. Um não entendia a língua do outro. Por fim, depois que os portugueses ficaram prisioneiros, os índios fizeram acordo com eles. Os portugueses traziam outros alimentos e os índios Tremembé frutos e mel. Com o passar do tempo e mais acordos, os índios foram mudando sua língua e costumes e uma das coisas que mudou foi a troca de nome de Alma fala para Almofala. Mas isso aconteceu, como o povo por aqui diz, depois da chamada por eles civilização. 

A LENDA DA MONGUBEIRA  

 A Lenda da Mongubeira, iniciou-se desde a época da estrada velha que ligava de Tanque do Meio (Itarema), ao Porto dos Barcos. O povo mais velho contava que aqui no alto da Amargura um dos primeiros locais que foi habitado, existia um pé de Mongubeira muito sombreado que ficava no meio da estrada, ali era o ponto onde os comboieiros botavam as cargas abaixo para abrigar da fora do sol que era quente e ardente. Também debaixo daquele pé de árvore era ponto certo de parar os enterros que vinham da localidade de Porto dos Barcos, Morro da Sinhá e das bandas de lá. Sempre ao passar por lá, o povo que levava o defunto paravam na sombra e botavam a rede no chão, enquanto as mulheres rezavam as ladainhas de recomendação do corpo a Deus. Com o passar dos anos os moradores daquele lugar passaram a ver coisas estranhas acontecer ali, pois muitos chegaram a ver o pé de Mongubeira em pleno meio dia pegar fogo. Aqueles que tinham coragem ficavam olhando e muitas vezes iam ver de perto, só que ao chegar na árvore tudo desaparecia e ninguém via mais nada. Os mais medrosos num podia nem ouvir falar que ficavam se benzendo com muito medo do que ouviam os outros falar. A história foi se espalhando até que em fim chegara na boca daqueles que moravam mais distante e muita gente vinha saber se era mesmo verdade aqueles fenômenos que vinha acontecendo, mas na hora em que chegavam perto não tinha coragem para ver a dita Mongubeira pegando fogo. Os moradores da localidade contavam que muitas vezes já era tarde da noite e ouviam aquele estalado de fogo, às vezes se acordavam com a claridade, alguns se levantavam e saiam fora, mas não viam nada e ficavam assombrados. Muitas pessoas resolveram ir embora para outros lugares. Depois de muitos anos foi que o povo resolveu derrubar a Mongubeira da estrada, pois até a própria estrada foi cercada e acabou tudo. E nunca mais ninguém se assombrou com o que se ouvia e via naquele lugar.  

 O LOBISOMEM 

  Uma das crendices mais populares do Município  é a do lobisomem. Alguns acreditam que seja um  individuo amaldiçoado pelos pais e pelos padrinhos.  Outros acham que é o sétimo filho de um casal. Geralmente é um homem magro muito pálido de nariz  arrebitado e orelhas compridas, não tendo sangue está condenado a morrer se não encontrar um jeito de ficar corado na primeira noite de terça ou sexta-feira depois do seu aniversário, enquanto todos dormem, ele sai de casa, silenciosamente, a meia noite e vai até uma encruzilhada, onde tira a roupa e vira pelo avesso. Depois dá sete nós em qualquer parte da roupa, deita-se em seguida no chão, e roda da esquerda para a direita, como um animal. Ali ele é observado apenas por uma coruja e por outros bichos noturnos, então  começa a se transformar em lobisomem. Seu corpo fica coberto de pêlos compridos, as orelhas crescem, a cara toma forma de um morcego, as unhas aumentam e viram garras, os olhos se avermelham e ele uiva como um lobo direncionado para a lua. Daquele dia em diante, toda terça ou sexta-feira, o lobisomem tem que cumprir sua corrida desesperada pelo mundo. Visita na mesma noite, sete partes da terra, sete adros de igreja, sete vilas e sete encruzilhadas. No caminho, espanta os cães, apaga as luzes das casas, quebrando o silêncio da noite com seus uivos horripilantes. Corre com joelhos e cotovelos, os quais, pela manhã, estão ensangüentados.  Logo que se transforma em bicho, o lobisomem sai a procurada de sangue para beber. Cachorro novo, bacorinho e criança de peito são os preferidos, pela pureza do seu sangue. Antes de o sol nascer, o lobisomem volta ao lugar de onde partiu e se transforma novamente em homem. Para o lobisomem se desencantar, basta qualquer ferimento por onde corra sangue. Se desfizermos os sete nós de sua roupa, o lobisomem, ficará para sempre correndo sem parar. Quem estiver no caminho de passagem do lobisomem, em noite de terça ou sexta-feira, deve rezar três Ave-Marias para se livrar e proteger-se. E quem tiver coragem de enfrentar o lobisomem deve ter muito cuidado, pois se uma gota de sangue do lobisomem atingir uma pessoa, ela se transforma também em lobisomem. 

 A LENDA DA MÃE COBRA 
  
Na chegada dos primeiros Padres Jesuítas em Almofala, logo foi iniciada a construção da igreja de Nossa Senhora da Conceição do Aracati – Mirim.   Almofala porta aberta para a civilização, terra rica e fértil banhada pelas águas do Aracati – Mirim e rodeada de lindas lagoas cheias de peixes, aves com as margens enfeitadas por verdes capinzais. Uma dessas lagoas ficou conhecida por Lagoa da Criminosa. Conta-se que na época uma moça da família dos brancos europeus, ficou grávida e passou o tempo todo escondendo a gravidez da família e de todos da comunidade. Pois naquele tempo havia um preconceito muito grande, pois na família que acontecia uma gravidez incorreta a filha seria deserdada e os pais lhe abandonariam para sempre. Conta-se que esta moça, no dia em que estava sofrendo as dores do parto, pra família não desconfiar de nada, foi até a lagoa onde ficava um pouco distante do povoado de Almofala. Chegando lá deu a luz a uma linda criança que acabando de nascer, foi jogada dentro da lagoa para morrer afogada. Como não foi vista por alguém, nunca seria descoberto o crime que praticou. Com o passar do tempo os pescadores, que sempre pescavam naquela lagoa, passaram a ouvir choros estranhos de uma criança como se estivesse se afogando e pedindo socorro por alguém para salvar. Os pescadores ouviam o choro olhavam para um lado e outro nas margens da lagoa, puderam observar que o dito choro lamentável era de dentro das águas daquela dita lagoa. Chegavam até procurar, se era de alguma criança perdida no capinzal sobre as margens da lagoa e nada de encontrar. Muita gente com medo, quando souberam do acontecido, deixaram de tomar banho e muitos pescadores não iam pescar mais ali com medo daquele choro lamentável. 
Um dos velhos pescadores da lagoa foi se confessar e contou para o padre que tinha ouvido um choro de criança dentro das águas da lagoa que já estava ficando assombrada para o povo. O padre ao ouvir a história disse ao velho pescador que fosse pescar e o que ele pescasse no primeiro lance da tarrafa lhe trouxesse até a igreja. O velho obedecendo o sacerdote foi à lagoa e jogou a tarrafa na água, e do primeiro lance quando puxou veio uma cobra malhada na tarrafa que foi imediatamente levada para a igreja, onde acontecia a missa e o padre mandou o velho pescador soltar a cobra no meio do povo, que saiu andando entre o povo. Ao ver uma mulher sentada em um dos bancos próximo ao altar, a cobra subiu até seu colo, muita gente com medo ia saindo para da igreja, mas o padre disse que a cobra queria apenas mamar, e que a mulher botasse o peito para fora. O padre trouxe água benta e jogou por cima da cobra que se transformou numa bela criança. O padre batizou e assim que recebeu o sacramento do batismo a criança morreu no colo de sua mãe. Por causa deste crime é que a lagoa ficou conhecida até hoje por Lagoa da Criminosa. Hoje não existe mais está lagoa porque na época do soterramento de Almofala esta lagoa foi totalmente soterrada pelas areias das dunas invasoras. 

 A LENDA DA CAJAZEIRA QUE PEGAVA FOGO NO RIACHO DOS MARTINS 

 Há muitos e muitos anos na localidade Barra do Riacho, propriedade da família Martins, existia uma velha Cajazeira localizada a margem da estrada que liga as localidades da Fazenda aos Olhos D’água. O povo conta que debaixo daquela árvore era um local onde sepultavam as crianças recém-nascidas que morriam pagãs. Passando-se os anos, aquela Cajazeira transformou-se em local assombrado.   Muita gente que passava pelo caminho durante a noite ouviam choro de crianças, e outros viram bolas de fogo que flutuavam no ar debaixo da dita Cajazeira. A noticia foi se espalhando na região e todos ficaram assustados. Ninguém queria caminhar naquela estrada onde ficava situada na margem do caminho a velha Cajazeira misteriosa. Aquele local ficou provocando medo e pavor nos moradores que muitos já haviam se retirado para bem longe daquela visão que aparecia de vez em quando. Em baixo da Cajazeira a visão era vista em forma de uma bola de fogo que subia e descia e dentro de poucos minutos desaparecia da vista do povo. Depois de muitos anos a Fazenda Riacho que pertenceu à família Martins, foi vendida ao Padre Aristides Andrade Sales, na década dos anos sessenta. Certa noite o vigário estava deitado em um tucum na área da casa e já era tarde da noite, quando olhou para estrada e viu algo estranho embaixo da dita Cajazeira, o padre observou algumas fagulhas de fogo que subia e descia desde o chão até os mais altos dos galhos, era como se fosse uma coivara que soltava as faíscas subindo e descendo. O padre observando aquilo achou estranho e dentro de alguns segundos desapareceu no ar levado pelo vento. No outro dia pela manhã muito cedo ordenou que cortassem a Cajazeira e retirasse bem para longe do local, pois o Padre Aristides ficou com medo da cena que havia avistado na noite anterior. O Padre Aristides rezou algumas missas e mandou jogar água benta no local onde apareciam as visagens. E daquela hora por diante nunca mais ninguém viu nenhum caso estranho de assombração referente à Cajazeira. 
  
              A LENDA DA SEREIA 
   
A Sereia é um ser fantástico dos mares e oceanos que canta e encanta os navegantes. Seu canto parece uma suave sirene, um sopro da brisa. Dizem que quem ouve o canto da sereia fica fascinado por ela e pode até se afogar ao tentar segui-la. Sua forma é um mistério: metade mulher, metade peixe. Os cabelos são longos, cor de coral. A cauda esguia movimenta-se com graça quando ela nada. Contam que em ALMOFALA, localidade situada no litoral de Itarema, um índio da tribo dos tremembé chamado Jeriguari, via uma sereia surgir e desaparecer nas ondas do mar. Essa visão, porém, só aconteceria em noites de lua cheia. Jeriguari mostrava a sereia aos seus amigos indígenas, mas só ele conseguia vêla. Uma noite Jeriguari estava olhando fixamente pra o mar quando a sereia apareceu com mais nitidez e veio vindo até onde a água era rasa. Os dois ficaram se olhando por algum tempo, deslumbrados. Ambos conversaram bastante, a sereia começou a cantar uma canção suave, uma canção de embalar sonos e sonhos. E ali o índio dormiu. De manhazinha Jeriguari acordou atordoado, olhou em volta, mas viu que estava só. Não sabia mais se realmente tinha encontrado uma sereia, ou se tudo não passava de um sonho. Voltou para a tribo, muito triste de uma tristeza saudosa.  A tarde foi ao mato caçar com os amigos, mas não contou nada pra eles. Depois disso, todas as noites de lua cheia Jeriguari voltava à praia e  ficava escondido atrás de um tronco de árvore do mangue vermelho, olhando para o mar na esperança de ver novamente a bela sereia. 

            A LENDA DO PAI DO MANGUE 

Contam os moradores de Almofala, que muitas  vezes vão ao mangue para buscar lenha ou pescar e chegam a  se assombrar com as visagens que tem no mangue,  principalmente com o PAI DO MANGUE, que é uma espécie de  mito que protege o manguezal do ataque do homem. O Pai do Mangue quando quer afastar os pescadores ou  lenhador pra longe do manguezal, ele se apresenta muitas vezes como: um vento forte, uivos de cães, barulho de árvores se quebrando, piados de pintos e muito mais coisas que assusta e fazem todo mundo correr de lá muito assombrado. Certa vez, foram dois pescadores pegar peixes nas camboas. Ao chegarem lá jogaram as redes n’água e fizeram um fogo as margens da camboa, pouco tempo depois veio um vento tão forte que quase apaga o fogo, os homens viram um vulto pescando de tarrafa bem pertinho de suas redes, deram boa noite e nada de respostas, com aquilo ficaram como muito medo. Tempos depois escutaram uns ganidos de cães como que se estivesse apanhando dentro do mangue, mas àquela hora seria impossível ter caçadores ali perto. Ouviram coisa estranha, um machado derrubando as árvores do manguezal, ambos com muito medo começaram a rezar, e logo foram despescar as redes e nada de peixe. Ouviram um barulho muito grande, como se fosse alguém que estivesse também puxando redes de peixes pertinho deles. Um disse para o outro: “compadre vamos embora, que hoje é noite do Pai do Mangue, e por isso não se pode pegar nenhum peixe, pois o povo diz que na noite que esta visagem protetora do mangue aparece não se pode pegar nada e é por isso que vamos embora.” Os pescadores retiraram bem rápidos suas redes e voltaram para casa muito assombrados com o que viram dentro do manguezal.  Uma vez duas mulheres foram buscar lenha no mangue e levavam consigo um cachorrinho, quando elas estavam quebrando a lenha já era quase sol posto, ouviram os latidos do cachorro na peia, como se uma pessoa estivesse açoitando. Elas chamaram o cachorro e botaram o feixe de lenha na cabeça e saíram às pressas de dentro do mangue.  Ambas já estavam atravessando a camboa, quando deu um pé de vento forte, como se fosse arrebentando tudo. Elas, muito assombradas, correram até chegar em casa. O Pai do Mangue é assim mesmo, ele protege as matas do mangue e também os peixes das camboas, e é defensor da natureza. Muita gente que vai ao mangue já tem voltado de lá as carreiras com muito medo das coisas que chegam a ver e dos barulhos que chegam a ouvir. 

A LENDA DA CAIPORA 

Caipora ou Caapora do que se infere que é o diabo disfarçado em figura humana, é o gênio protetor dos animais das matas. Seu poder não se estende aos animais de pena. Limita-se aos animais de couro e chifres: porcos, veados, cutias, pacas, tatus, tamanduás, etc. Para alguns índios da tribo Tremembé, o gênio é do sexo feminino e aparece sob a forma de uma índia pequena e forte, doida por fumo e aguardente. A Caipora tem o corpo coberto de pêlos que surge montada num porco-do-mato. Sua missão é proteger a caça dos caçadores malvados, que matam animais com crueldade e logo é castigado pela Caipora. Nas sextasfeiras, mesmo com o luar é proibida a caça.  Nos dias santos e domingos não se pode caçar. Quando os caçadores infringem as leis da caipora, ela espanta a caça, surra os cachorros faz um barulho infernal e persegue os caçadores que largam as armas e fogem apavorados. Mas o que respeitam a Caipora leva-lhe fumo e cachaça, e põe no tronco de uma árvore, estes podem caçar a vontade sem a perseguição da Caipora.  Os caçadores que não entram em acordo com a Caipora nada conseguem. Estes perdem seu tempo e seu chumbo, pois os animais que caem varados pelas balas, mesmo os mortos, se levantam, ressuscitados, ao contato do focinho do porco, no qual se acha montado a Caipora. O povo que mora nas matas, muitas vezes vão caçar durante a noite e  se defende da caipora com um tição flamejante durante as jornadas noturnas, pois estes fantasmas da noite, fogem da claridade que os homens dominam. Alguns viajantes que tocam os comboios durante a noite levam fachos acesos para espantar os bichos e fábulas que povoam as horas escuras. Conta-se um caso sobre Caipora: Uns viajantes estavam percorrendo as estradas do Ceará e resolveram acampar durante a noite sobre uma grande árvore, ali prepararam o jantar, era tatu que tinha matado de viajem e estavam assando em um espeto, sobre um fogo de brasas. Ambos conversavam assuntos sobre a viagem quando de repente viram a Caipora chegar montada em um porco e chegando perto deles parou e disse: “vambora João.” E João o tatu, meio assado e sem víscera, acompanhou-a e se foi embora junto com a Caipora, em desmedida carreira, deixando os viajantes assustados. 

 A LENDA DO DIABO NA GARRAFA 
  
O índio Quariguassu da tribo dos Tremembé de Almofala, queria ser o maior guerreiro invencível da tribo, para lutar e não ser vencido por inimigos. Certa vez foi conversar com o curandeiro pajé Juriparariguru, e pediu forças aos poderes mágicos do feiticeiro da aldeia. Juriparariguru, atendeu o jovem indígena com seu pedido dizendo: Quariguassu pra arranjar forças é preciso fazer tudo o que lhe mandar e guardar o segredo até a morte. Na primeira sexta-feira da quaresma numa encruzilhada, colocar um ovo debaixo da axila esquerda. Já pode ir para casa e deitar, porque uma febre o atacará.  A febre ajuda a chocar o ovo. Mate um gato preto, tirar-lhe os olhos e coloque cada um dentro de um ovo de galinha preta, guardando tudo dentro do estrume de eqüino. Passando quarenta dias nascerá um diabinho do tamanho de um palmo, que deve ser colocado dentro de uma garrafa bem arrolhada.  O diabinho recém-nascido deverá ser alimentado com ferro ou aço moído. O pajé ainda lhe disse: “Quariguassu não deixe ninguém ver nem pegar nele.”  O diabinho fará tudo que o dono quiser: ele traz força, coragem, riquezas e posição social. E faz com que domine todas as batalhas das contendas indígenas, nunca será vencido por nenhuma tribo de índios.  E nos conta a lenda que Quariguassu ficou invencível, desde que passou a possuir o diabinho na garrafa. 
   
A LENDA DA CRUZ MAL-ASSOMBRADA 

 Conta-se muito antes da construção da igreja de Almofala, veio de Portugal um frade para catequizar os índios e os filhos dos colonos europeus. O frade se chamava Frei Jorge do Amparo. Ao desembarcar em Almofala ficou residindo em uma choupana de palha e taipa construída pelos Tremembé nas margens do Aracati-Mirim. Frei Jorge e os índios ergueram um pequeno nicho para o abrigo de nossa senhora da conceição - Padroeira dos tremembé. Certa vez numa noite fria e chuvosa iluminada pelos relâmpagos e sonorizadas por trovões, um velhinho encharcado, humilde e tremulo, com voz doce e triste, bateu a porta do casebre, suplicando agasalho por uma noite. Um leigo que convivia com Frei Jorge estava na porta do casebre, zangado com a atitude do velhinho recusou hospedagem e mandou que fosse dormir em uma latada ao lado do nicho, ou mesmo embaixo de uma árvore que ficava a margem do rio, não deu mais atenção ao pedinte e fechou a porta. Cambaleando o velhinho seguia estrada a fora sobre a chuva e o relento da noite, caminhando em busca de um abrigo a onde pudesse ficar. A chuva era forte e os relâmpagos riscavam os céus que clareava todo o caminho lamacento e longe de uma moradia. O pobre velhinho não resistindo o frio, o cansaço tombou pela estrada sem vida. Ao amanhecer o dia foi encontrado por alguém que vendo o corpo do velhinho deu-lhe a sepultura ao lado daquela estrada que ligava de Almofala para a lagoa seca. No local, onde morreu o velho colocaram uma cruz, onde muitas pessoas vinham rezar para a alma daquele velho que havia morrido na mais triste solidão.  Depois de muitos anos os moradores da região começaram a ouvir choro e maldizências, que surgiam da cruz, fazendo os moradores ficarem assombrados.   Muita gente que passava no local depois da meia noite ficavam assustados com o que ouvia, muitos chegaram a ver um velho de barbas e cabelo branco chorando ao pé da cruz e lamentando o abandono humano. Quando se espalhou aquela noticia por toda a vizinhança o leigo que havia lhe negado agasalho ficou arrependido e contou o caso pra o Frei Jorge, que logo interessou-se para celebrar uma missa em sufrágio da lama do velho que a tempos vinha se lastimando ao pé da cruz. O leigo pediu perdão ao frade pelo que cometeu ao velho mendicante de esmolas. Depois da celebração da Santa Missa, acabou-se para sempre as visões daquela cruz mal – assombrada, onde o povo vivia e ouvia as lamentações do velhinho.  Os moradores também não chegaram mais a ouvir nada.  No local se tornou um ponto de romaria do povo católico, que vinham de muito longe para pagar as promessas que faziam com a lama do velho, que se tornou muito milagrosa. O leigo sempre mandava o frei celebrar uma missa para o perdão de pecados do velhinho. 


A LENDA DO OLHO D’ÁGUA DO MORRO DO PARAIBANO 

 Contam os antigos indígenas de Almofala, que no Olho D’água no Morro do Paraibano, uma das lagoas situadas próximo à aldeia dos Tremembé, um índio pescador e caçador bastante destemido e bom, que lutava com as maiores dificuldades para viver. Areriguar gostava muito de pescar com pindaíba mas os peixes da lagoa fugiam dele como o diabo da cruz. Numa noite de luar estava Areriguar a pescar quando o peixe escapuliu depois de comer a isca.  A noite foi avançando e o luar ficando alvo como a prata. O índio já ia ficando desanimado quando começou a ouvir umas vozes cantando, tão bonito que era de encantar, o índio olhou ao redor pra ver quem estava cantando. Numa ponta de pedra apareceu uma moça muito bonita, como se fosse um verdadeiro anjo do céu, cabelos loiros, olhos azuis, e a pele branca e o corpo meio fora d’água e os cabelos espalhados como se fosse ouro. Areriguar ficou sobressaltado com aquela bela imagem linda que brilhava com os raios dourados do luar friento. Mas com muita coragem falou pra ela assim: “O que desejas alma penada?” A Mãe D’água, sorriu para o índio e disse: “sou dona dessa lagoa e sempre em noites de lua clara apareço aqui para ver os moços que vem sempre se banhar nestas águas cristalinas, mas ao me verem saem correndo com medo de mim. Jovens que escutam o meu canto, nunca mais voltam para banhar-se nesta lagoa, mas não tenha medo pois vou te ensinar um ponto que tu podes pescar e pegar muitos peixes. Preste  bem atenção no que vou lhe dizer agora. Quando eu mergulhar nas águas vem para esta pedra e lança a pindaíba ao pé da pedra que pegarás muitos peixes.” Naquele momento a Mãe D’água mergulhou deixando aquele pobre índio doido de paixão por aquela beleza que acabara de ver e ouvir sua voz encantadora. Areriguar nadou até a ponta da pedra e lançou a pindaíba nas águas e pegou muitos peixes.  Ao voltar para casa, Areriguar não conta nada para seus pais e nem amigos, muito apaixonado Areriguar passou a sofrer e só imaginava naquela moça de cabelos compridos que avistou no claro da lua cheia. E quase todas as noites o índio voltava para se encontrar com seu amor por quem estava apaixonado. Areriguar saia todas as noites para as margens da lagoa, ia sempre sozinho, pois queria conversar com sua amada. Certa noite ele ouviu ao longe um cântico triste. Triste como alguém que se despedia desse mundo. Ele andou em volta da lagoa mas não conseguiu ver nada. Até que em fim, Areriguar largou-se sobre as águas e nadou, nadou e nunca mais voltou a tribo onde morava, seus pais e toda a tribo chorou de saudade daquele índio bravo e corajoso. 


A LENDA DO ASSOVIADOR 

Está lenda é contada pelos indios que moram nas matas, interior de Itarema. O povo indigeno conta que o Assobiador é um fantasma, que tem a forma de uma pessoa e se veste com uma túnica branca que balança sobre o vento. Seus pés são cobertos pela veste e fica sobrevoando no espaço, e só aparece nas noites de lua cheia e outras vezes em noites escuras, assombrando viajantes e namorados que vem da casa de seu amor em alta noite, que por sua vez, escutam de longe finos e fortes assovios. Era primavera mês de setembro e a noite estava clara, a lua já pendia no firmamento e era quase a meia noite. Clodoaldo um jovem forte e corajoso, vinha de voltando da casa de sua namorada, que distava de sua residência meia légua. Ao deixar a estrada, ele entra por um caminho que levava até a sua casa. Adiante Clodoaldo ouviu um assovio bem perto e continuo. Adiante tornou a ouvir o assovio ainda mais perto. Clodoaldo pensou em assoviar e deu um assovio, arremedando o fantasma da noite. Mas o fantasma Assobiador veio e deu um assovio bem ao pé do ouvido do rapaz que ele se assombrou e saiu correndo em busca de sua casa.  Clodoaldo em desmedida carreira, muito assustado pôde observar que aquele fantasma ia correndo atrás dele, pois suas vestes balançavam sobre o vento frio da meia noite. Em fim o moço chega em casa, chama seus pais e conta todo o acontecido que viu no caminho de volta para casa. Então os pais lhe disseram que jamais se pode arremedar o Assoviador, pois ele tem raiva e persegue todos aqueles que tentam lhe arremedar. 

OUTRO CASO DE ASSOVIADOR 

Certa vez uma senhora tinha acabado de fazer umas tapiocas e beiju na casa de farinha de uma amiga, e colocou as tapiocas e beijus sobre o teto da casa de farinha para esfriar mais rápido. Quando lembrou-se de tirar as tapiocas, já era quase dez horas da noite. Já deitada, a senhora levantou-se e foi colher seus quitutes. Quando ela estava retirando as tapiocas do telhado, ouviu um assovio bem perto e ficou com muito medo, chamou o marido mas não foi correspondida e continuou a fazer o seu trabalho, quando ouviu mais um assovio bem perto da casa de farinha e mais uma vez a mulher se assombrou e disse uma mal palavra. Ela desconjurou o Assoviador.  Ao entrar dentro de casa ela sentiu uma coisa lhe agarrando e lhe puxando para fora de casa. A mulher assustada com muito medo grita pelo seu marido que o ouvir os alaridos correu para salvar a esposa, chegando no terreiro da cozinha encontrou-a caída desmaiada no chão. Depois de algum tempo ela tornou e contou o que viu e ouviu ao marido que também ficou muito assustado. 


A LENDA DA MULHER DE BRANCO 

 Há muitos e muitos anos os índios moradores do Morro do Comum nas proximidades de Almofala contam esta lenda que vem sendo passada de pais para filhos. Uma velhinha que morava as margens da estrada de Almofala e se vestia de branco vivia sozinha quase abandonada pela família e que morava em um casebre de palha ao pé das dunas de areia alva e fina. Certa vez a velhinha de branco vinha caminhando de Almofala para a sua residência e trazia apenas uma trouxa na cabeça contendo alguns alimentos que havia comprado. Bem próximo a sua casinha foi pega por ladrões que lhe assaltaram e no final do assalto mataram a pobre senhora para lhe tomar o dinheiro e o que conduzia na trouxa. Já morta, os mal feitores jogaram o corpo no sopé das dunas em um pequeno matagal de pinhão brabo -  vegetação ambulante no lugar. Dias depois, a velhinha foi encontrada por moradores da localidade que sentiram o mau cheiro. Foram verificar e avistaram seus restos mortais já estragados pelos cachorros. No mesmo local onde acharam o corpo lhe deram à sepultura daquele cadáver que havia sido vitima de grande crueldade para os que moravam naquela comunidade. Depois de alguns anos pareceu uma história que a velhinha de branco estava aparecendo na estrada com uma trouxa na cabeça; já outros contavam que havia sido vista joelhada ao pé da cruz com um terço nas mãos; outras pessoas contaram que ouviram a velhinha chorando e se maldizendo na beira da estrada.  Por causa dessa aparição é que muitas pessoas ao anoitecer fechavam as portas de suas casas com muito medo da visão que chamavam a Mulher de Branco. A noticia foi se espalhando por muitos outros lugares e as pessoas faziam promessas e eram validas. Por isso aquele local se tornou um lugar de romaria até pouco tempo, pois a velhinha era muito milagrosa, e por isso a sua cruz vivia enfeitada de fitas e rosas das diversas qualidades.  A velhinha de branco depois de receber muitas orações não apareceu mais sobre a sua sepultura, onde o povo acostumava lhe ver. 

  A LENDA DA MÃO D’ÁGUA  DA LAGOA DA BATEDEIRA 
  
Os moradores da localidade de Lagoa da Batedeira contam que desde muitos anos existe uma Mãe D’água que é vista pelos pescadores que sempre vão em busca dos peixes para o sustento da família.  O senhor Manoel Pereira, mais conhecido por Manoel da Lagoa, devido ter morado muitos anos naquela localidade, conta que certa vez pegou suas linhas e foi pescar. Era noite enluarada no mês de agosto. Chegando ao lado do pente da lagoa que brilhava as águas douradas do claro da lua. Seu Manoel da Lagoa botou as linhas com anzóis iscados com minhocas a espera das Trairas e dos Carás. Peixes abundantes nas águas nas águas daquela lagoa. Seu Manoel da Lagoa, estava sentado perto do fogo que havia feito para esquentar-se do frio. Por volta da meia noite, a lua clara como se fosse o dia, seu Manoel da Lagoa ouviu uma voz de uma moça cantando uma linda canção de amor, como quem estava apaixonada. Ao ouvir aquela voz muito bonita, ele olha para um lado e para o outro, quando avistou ao lado do nascente, as margens da lagoa, uma mulher de cabelos longos que apresentava-se somente da cintura pra cima; tinha os cabelos tão grade que cobria todo o corpo.  Quando Seu Manoel da Lagoa avistou a beleza daquela mulher, ficou ali parado, nem conseguiu correr e nem falar, mas quando olhou novamente ainda viu a Mãe D’água mergulhar nas águas e tudo ficou em silêncio. Seu Manoel da Lagoa, nesta noite não pegou nenhum peixe, voltou para casa bastante assustado com o que havia visto na lagoa. Já outras pessoas contaram que já tinham visto a Mãe D’água e ouvido o seu cantar. Outros dizem que a Mãe D’água enfeitiça os homens entoando canções mágicas. Ao ouvirem, são traídos para a morte nas profundezas do rio, lagoa, ou açudes.  Muita gente conta que no século XIX, chegou a desaparecer um pescador jovem que ao ouvir seu cântico e apaixonado pela sua beleza caiu nas águas e morreu afogado. Contam que seu corpo nunca apareceu. 
   
A LENDA DA BOTIJA 

 As Botijas são histórias que o nosso povo conta.  Conta-se que antigamente os senhores de engenhos,  ou grandes criadores de gado que tinham muita produção durante as safras, pegavam o dinheiro e guardavam. Às vezes passavam dificuldades, até privações, pois tinham pelas moedas grande interesse e exagerado apego. Juntando e guardando moedas de ouro e prata, as mantinham escondidas sob segredo da família e dos parentes. E, quando já estavam prestes a morrer, juntavam as moedas e outras jóias que já possuíam e as colocavam dentro de um vasilhame feito de barro ou cerâmica e as enterravam em lugar secreto. Na linguagem popular chamavam de botija ou tesouro. Na época era um ritual feito por ricos fazendeiros que enterravam seus valiosos tesouros, imaginavam que pudessem acompanhá-los ao túmulo. Depois com o passar dos anos a alma ficava sofrendo no fogo do purgatório, pois não podia subir ao céu por causa do dinheiro ou jóias que havia enterrado, escondido da família. Então a alma procurava uma pessoa e doava a botija dizendo o local onde se encontrava, e a pessoa arrancava e a alma subia para o céu. Mas pra arrancar a botija, é preciso ter muita coragem, pois há muitas perseguições por parte do diabo no momento em que o tesouro está sendo desenterrado. O ganhador da botija tem que ir sozinho, antes da meia noite, levar uma vela benta e uma imagem de Jesus Cristo crucificado, para quando arrancar o pote deixar o crucifixo dentro do buraco. Também não pode ter ganância pelo tesouro, porque pode o dinheiro transformar-se em insetos voadores ou carvão. As sair do local onde foi arrancada a botija, não pode tapar o buraco e o felizardo deve guardar o dinheiro por sete dias, e depois tem que se mudar para outro lugar bem longe, onde ninguém saiba seu paradeiro. O segredo deve ser guardado debaixo de sete chaves. Muitas dessas histórias de botija e alguém arrancar uma, já têm acontecido várias vezes no município de Itarema.  

  IATE ENCANTADO EM ALMOFALA

 Nas praias de Porto dos Barcos e Almofala, há muitos e muitos anos os índios daquela região contam uma lenda sobre a história do Iate que vinham assombrando os pescadores da região itaremense Sr. Felix um pescador velho que tem a pele queimada pelo sol forte do mar, desde de muito criança vem pescando nas águas do oceano atlântico. Certa vez ele foi despescar uns manzuás em uma pescaria feita por ele e seus companheiros. Ele conta que alguns pescadores saíram para o mar por volta das três horas da tarde para que pudessem chegar no local mais cedo e escolhessem um lugar para afundiarem  o barco. Chegando no local da pescaria, fecharam o pano e trataram de pescar com seus anzóis, as águas estavam escuras e o mar de rolação. Ambos conversando uns com os outros de repente os pescadores olham em alto mar e vistam uma embarcação que vinha do mar para a terra, de longe puderam avistar e viram que era um bonito veleiro que ia passando por muito longe deles. Então a pescaria estava boa, eles estavam pegando muitos peixes, e conversa vai conversa vem já era muito tarde da noite, olharam e avistaram aquele Iate muito bonito que vinha em direção deles, o mestre Felix disse não temos com que faça fogo, é melhor nós puxar o ferro e correr ou o Iate vai nos barroar pois ele vem de rumo traçado. Os pescadores estavam nesta conversa quando olharam viram a iluminação do barco já bem próximo deles. Então levantaram o mastro e abriram o pano e correram mais um pouco em rumo da terra, enquanto o Iate passava por eles. E os pescadores sempre de olho no Iate, um certo momento viram e ouviram a conversa de gente que falava e sorriam bem alto. Os pescadores ali naquele pequeno bote pensando de acontecer alguma coisa, pois a noite estava clara e do lado em que eles iam navegando o Iate ia a todo tempo em direção deles. Até que o Iate passou a bordo do mar mais muito próximo deles que sentiram o mar revoltado pelas as ondas daquele grande barco. Daqui a pouco seu Felix, olha e não avista mais o Iate, pergunta a um e a outro e ninguém viu onde se meteu aquele Iate que vinha em direção dos pescadores. Seu Felix que não tinha medo de nada ficou muito perturbado, pois não avistou nem se quer as luzes as luzes que clareava tudo ao redor, e também não se sabe onde socou-se aquele barco mal assombrado. Os pescadores depois que viram o dito Iate, não conseguiram pegar mais nada, parece que havia sumido todos os peixes do mar. Rumaram o bote para casa e vieram todos embora pensativos naquilo que havia visto em alto mar. 


A LENDA DA MULA SEM CABEÇA 
  
Dizem que há muito tempo, existia um rei cuja esposa tinha um estranho hábito de passar a noite pelo cemitério. O rei ficou desconfiado com esse passeio misterioso e resolveu, certa noite, seguir a esposa. Chegando ao cemitério, deparou-se com uma cena horrorosa. A rainha estava comendo o cadáver de uma criança que tinha morrido na véspera. O Rei não se conteve e soltou um grito de espanto. Vendo-se descoberta, a rainha deu um grito ainda maior e transformou-se no mesmo instante em mula-sem-cabeça Daí por diante muitas mulheres de má conduta passaram também a se transformar em mula-sem-cabeça. Na noite de quinta para sexta-feira, ela vai até uma encruzilhada e ali acontece o encantamento. Depois, tem que percorrer sete freguesias ao longo daquela noite, correndo veloz e furiosa pelas estradas até o romper da madrugada. Os cascos afiados da mula-sem-cabeça dão coices como navalhas, os homens e os animais que encontram pela frente são mortos a patadas. De longe pode se ouvir o estrondo do seu galope fantástico. Seus relinchos furiosos ecoam pelo espaço e ouve-se também o ruído de suas dentadas, no freio de aço que leva na boca. Mas ninguém conseguiu mesmo ver foi a sua cabeça. Pois é invisível aos olhos do homem. Pela madrugada, ao cantar de galo, a mula-sem-cabeça recolhe-se cansada, cheia de nodoas de pancadas. Volta então à forma humana. Na sexta-feira recomeça a sua jornada macabra. Se nessa ocasião, porém um homem conseguir feri-la, de modo que seu sangue corra, quebra-se o encantamento. Mas para isso, é preciso muita coragem e valentia. Mas veja que estranho: mula-sem-cabeça é só o nome desse mito. Na verdade de acordo com as histórias que o povo conta, ela aparece como um animal inteiro, forte, lançando fogo pelas narinas e pela boca, onde tem freios de ferro. Nas noites de cumprir sua punição, ouve-se seu galope violento acompanhado de longos relinchos. Em alguns momentos, soluça como uma pessoa quando chora, ninguém põe o pé fora de casa nessas noites. Se alguém bastante corajoso tirar os freios de sua boca o encanto se quebra e a mula-sem-cabeça voltará a ser gente livre para sempre da maldição que castiga. 

 A MOÇA PERDIDA DA LOCALIDADE DE SÍTIO ALEGRE (FATO HISTÓRICO) 

Conta-se que em 1877, houve uma terrível seca, que ficou conhecida por seca dos dois sete. Na época em que houve esta seca, chegou a morrer muita gente de fome. Uma família veio tangida pelo sofrimento do sertão seco, asqueroso e esquisito.Eles viajavam em busca do litoral, onde houvesse refrigero e a alimentação que ambos escapassem daquela cruel seca que isolava todo território cearense. Apenas uma moça, desta família sofrida, chegou em terras do município de Itarema, enquanto sua família morreu de fome deixando as cruzes espalhada pelo caminho. Conta a história que essa moça muito cansada e fraca, já não resistindo o sofrimento tombou sem vida a sombra de um velho pau d’arco que havia na estrada triste e solitária e chegou a morrer de fome e sede sem ter alguém para socorre-la.  Já por muitos dias foi seu cadáver encontrado por viajantes que passavam por aquele lugar e ali mesmo deu-lhe a sepultura. Seu corpo já se encontrava em estado de decomposição e muito estragado pelos cães e o mal-cheiro corria muito longe. Quando a história se espalhou por toda região que na localidade de Sitio Alegra nas proximidades de Almofala, quando o povo soube dessa tragédia muita gente foi visitar e saber da história dessa moça que havia morrido de fome e de sede naquele lugar. Como passar dos anos no local de sua sepultura passou a ser um ponto de referencia de romaria pelo povo que vinha pagar as promessas das graças concebidas pois a alma da moça era muito milagrosa. Muitas mães de família às vezes se achavam com problemas; moças que estavam com dificuldades no casamento; pessoas que sofriam de varias doenças ou qualquer outra coisa, faziam e eram validos, e por este motivo todos vinham pagar as promessas com velas, fitas, flores e rezavam terços e orações em favor daquela alma bendita. Com o passar dos anos, naquele local foi diminuindo as romarias, pois o dono da propriedade cercou todo o terreno e derrubou a velho-pau-d’arco que a sombra abrigava os romeiros nos momentos de pagar as promessas. Assim surgiu a lenda da cruz milagrosa  Esta lenda foi passada na localidade de Sitio Alegre, próximo ao povoado de Almofala no Município de Itarema – CE. 

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